As estimativas dão conta de que o País irá necessitar de mais de 200
mil trabalhadores para suprir a demanda do setor de petróleo e gás por
conta dos investimentos que serão feitos pela Petrobras para a
exploração do pré-sal, a camada de óleo descoberta em 2007 que fica a
mais de 6 mil quilômetros abaixo do nível do mar. Para explorar as novas
reservas e cuidar da produção e refino do que já existe, a estatal
programa investir 224,7 bilhões de dólares entre este ano e 2015.
A empresa prevê chegar a 2020 produzindo somente na área do pré-sal
mais do que os atuais 2,1 mil barris de óleo equivalentes. Com isso, a
participação do pré-sal na produção de petróleo da Petrobras no País
passará dos 2% atuais para 18%, em 2015, e para 40,5%, em 2020. Em uma
década, a produção total de óleo e gás da companhia, no Brasil e no
exterior, vai saltar de 2,77 milhões de barris de óleo equivalente (boe)
para 6,4 milhões. Para tudo isso, irá precisar de muita gente, o que
mobiliza tanto empresas do setor como instituições de ensino.
“Se a gente não conseguir formar mão de obra, as empresas vão
importar trabalhadores”, avalia o professor Maurício Mota,
vice-presidente do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de
Janeiro (Cefet-Rio), um dos integrantes da rede federal de ensino
técnico, com escolas em todo o País. Nas salas de aula da instituição
ingressam anualmente cerca de mil alunos nos níveis técnicos e de
graduaçãoem engenharia. São31 cursos técnicos, 16 de graduação e 6 no
nível de mestrado.
O orçamento anual do Cefet-Rio é de 160 milhões de reais, incluindo a
folha de pagamentos. Sem a folha, esse valor baixa para 40 milhões de
reais, que são destinados à manutenção e aos investimentos. Mota conta
que trabalha há 20 anos na instituição e que as verbas têm crescido
desde 2004. “Está claro que houve uma expansão, mas é preciso mais”,
afirma. “Tem de haver um incentivo maior às instituições de engenharia. O
governo precisa ampliar a formação de técnicos, não só nas áreas de
petróleo e gás, porque hoje temos um apagão de recursos humanos. Não
adianta termos dinheiro se não tivermos quem desempenhe as funções”,
reclama o professor.
Segundo Mota, as necessidades do setor são gerais. Vão desde
profissionais de nível técnico até graduados em mecânica, engenharia
elétrica, além dos especializados em petróleo e gás. “Muitas vezes há
necessidades em áreas que nem imaginamos. Hotelaria, por exemplo. É
preciso profissionais que cuidem dos trabalhadores que ficam confinados
em uma plataforma de petróleo em alto mar”, acrescenta.
Com o pré-sal, uma cadeira de formação que o vice-presidente do
Cefet-Rio vê como promissora é em geologia, tanto em nível técnico como
de geólogos propriamente. “O País precisa deles e temos poucos geólogos
disponíveis.” Um curso técnico no Cefet-Rio dura três anos. A graduação
em engenharia leva cinco anos. Mas a instituição atua em cursos de
especialização em convênio com o Programa de Mobilização da Indústria
Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp). Dentro do programa, criado
pelo Ministério de Minas e Energia, patrocinado pela Petrobras e com o
apoio de entidades empresariais e industriais, são ministrados cursos de
aperfeiçoamento nas áreas de petróleo e gás, em programas de três a
nove meses, para profissionais do nível básico até universitários.
José Renato Ferreira de Almeida, coordenador do Prominp, afirma que a
demanda do setor como um todo até 2015 será de cerca de 212 mil
profissionais. É esse contingente que o programa espera treinar para
atender a demanda não só da Petrobras, mas de todas as empresas que
integram a cadeia produtiva de bens e serviços do setor.
Mota, do Cefet-Rio, cita como exemplo de demanda a construção de uma
refinaria de petróleo, que leva cerca de quatro anos para entrar em
operação. “Temos que pensar que um engenheiro leva cinco anos para se
formar. Então o planejamento das atividades tem de levar em conta a
formação das pessoas que vão operar essa refinaria”, explica o
professor. “É preciso articular o investimento em infraestrutura e a
formação de mão de obra. Senão, corre-se o risco de ficar com o parque
vazio.”
“Se temos uma refinaria que vai ficar pronta em 2014, já em 2012
temos de fazer a seleção para contratar as pessoas, que estarão aptas
até a refinaria ficar pronta”, explica Lairton Correa, gerente de gestão
do efetivo da Petrobras. Todas as vezes que a estatal revisa seu plano
de investimentos estratégicos, o departamento de recursos humanos
acompanha o movimento. Atualmente, a empresa tem 58 mil funcionários. Se
forem somados os que trabalham nas subsidiárias, coligadas e no
exterior, esse total salta para 80 mil trabalhadores.
Segundo Correa, pelo atual plano estratégico da empresa, há
necessidade de contratar 17 mil trabalhadores até 2015. “Isso significa
que haverá processos seletivos para atender essa demanda, em todas as
áreas”, diz. Ele conta que as profissões mais demandadas são para as
áreas de exploração e produção de petróleo, além das competências
voltadas para abastecimento. “Dentro desse grupo, o que mais procuramos
são engenheiros, de diversas áreas.” Um engenheiro em início de carreira
na Petrobras ganha um salário bruto de cerca de 6.200 reais. Porém, se
trabalhar em uma plataforma, tem vários adicionais.
A Petrobras tem feito cerca de dois processos seletivos a cada ano.
Como seu quadro de cargos e funções é diferente do que existe no
mercado, a empresa admite pessoas com formação técnica e em engenharia e
complementa as habilidades com cursos dentro da Universidade Petrobras
(UP), que tem um volume diário de alunos de mil a 1,5 mil. “Em
engenharia de petróleo, por exemplo, não há formação de mão de obra no
mercado. Então, abrimos o processo seletivo para qualquer área em
engenharia e complementamos a formação do profissional dentro da
Petrobras”, conta Correa. O mesmo processo é realizado com os
profissionais de nível técnico.
Segundo o gerente do RH da Petrobras, o tempo de formação interna dos
profissionais varia de acordo com a função. Em média, são cerca de 18
meses. Um engenheiro da área de petróleo passa por um treinamento de 10
meses após ingressar na empresa. Já um geólogo fica nos bancos escolares
por um ano. “Um administrador fica pronto em três meses. Tudo depende
da profissão”, acrescenta Correa. No ano passado, a companhia de
petróleo investiu 210 milhões de reais em treinamento do seu pessoal.
Foram 190 mil pessoas treinadas. Ou seja, cada trabalhador passou por
cursos mais de duas vezes no ano.
Preocupada com a falta de profissionais qualificados, a Odebrecht
Óleo e Gás criou o Projeto Embarcar, que começa em 2012 e vai dar
treinamento para profissionais que vão trabalhar embarcados. A companhia
tem três sondas de perfuração no País e mais quatro vão chegar em
meados de 2012. Por conta disso, reservou 5 milhões de dólares para dar
treinamento aos funcionários dessas sondas somente no ano que vem.
“Diante do cenário de gargalo profissional em que nos encontramos, o
programa identificou que, se a empresa não investir na formação do
trabalhador, a indústria terá um colapso”, afirma Marco Antônio Barbosa,
coordenador do projeto. “Ou as empresas qualificam ou terão de importar
profissionais.”
Segundo Barbosa, há uma gama ampla de cursos tanto no Brasil como no
exterior que devem ser aplicados aos profissionais que trabalham
embarcados. “Esses profissionais acabam valendo ouro no mercado. Uma
empresa tira o trabalhador da outra. A preocupação hoje é quando eu vou
formar e quanto, já que não se pode contratar um profissional sem
experiência”, afirma.
O executivo da Odebrecht lembra que a companhia está entrando em uma
concorrência para a construção de 21 plataformas em parceria com a
Petrobras, o que dá uma dimensão da quantidade de profissionais que
serão necessários. Em cada plataforma são cerca de 160 profissionais que
trabalham embarcados, divididos em duas turmas, que se revezam de 14 em
14 dias.
Barbosa conta que o Projeto Embarcar tem duas vertentes: a primeira é
cuidar dos trabalhadores que já estão na empresa e dar treinamento a
eles nos períodos de folga. A segunda é treinar os profissionais que
estão no mercado, sem experiência, mas que sejam oriundos de escolas
técnicas e universidades que tenham sinergia com a atividade. “O tempo
de treinamento depende da área em que o profissional vai trabalhar, mas o
básico leva cerca de nove meses”, afirma. A primeira turma do Embarcar,
com 98 profissionais, inicia o treinamento no ano que vem.
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